Parque Irmão Cirilo

O Parque Florestal Irmão Cirilo é um parque municipal que foi instituído a partir do Decreto nº 138/97, em data de 26 de fevereiro de 1997, pelo então prefeito do Município de Francisco Beltrão, Guiomar Jesus Lopes, deixando de ser uma propriedade particular. O Parque pode ser considerado uma Área de Proteção Ambiental (APA), conforme art. 15 da lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000, que regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, onde consta que esta é uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de tributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos maturais.

Área e localização

O Parque Florestal Irmão Cirilo possui uma área de 25,37 ha, tendo sido instituído sobre os lotes nº 89 e 90 da Gleba nº 3 – FB, então recebidos pela Prefeitura Municipal, do Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná – GETSOP na data de 26 de agosto de 1971. Está localizado no Bairro Padre Ulrico, perímetro urbano do município de Francisco Beltrão, Estado do Paraná, sob as coordenadas 26º02’50”S e 53º02’22”W, situado de 547 à 565 m de altitude em relação ao nível do mar (IBGE, 2014).

 O município de Francisco Beltrão está localizado no centro da Região Sudoeste do Estado do Paraná e possui uma área total de 735,111 Km², com 78.943 habitantes em 2010 (IBGE, 2010); o clima da região é classificado como Cfa – Clima Subtropical Úmido Mesotérmico de acordo com a classificação de Köppen, precipitação média anual de 2000 a2500 mm e umidade relativa anual de 75 a 80 % (IAPAR, 2000), a altitude é de cerca de 600 metros.

 Área do Parque Ambiental Irmão Cirilo e seu entorno

Área do Parque Ambiental Irmão Cirilo e seu entorno. Fonte: Google Maps (adaptado) (2015).

Irmão Cirilo

O Parque Ambiental Irmão Cirilo é assim nominado em homenagem ao Irmão Cirilo José, de nome civil Vunibaldo Körbes, que nasceu em São Caetano, Município de Lajeado, atualmente Arroio do Meio no Rio Grande do Sul, em 30 de agosto de 1923. Era o 9º filho de Jorge Kreutz Körbes e Clara Flach Knob. Seu pai foi professor rural durante 44 anos e 23 anos presidente da União Popular de Professores de escolas Católicas. Como professor muito se empenhou pela saúde de seus alunos e de suas famílias, assim deixou um manuscrito de mais de 120 receitas de ervas e de homeopatia. Irmão Cirilo cursou o primário na escola do próprio pai. Em 1935, ingressou no Juvenato São José de Canoas (RS), para se formar um religioso Irmão Lassalista (Irmão das Escolas Cristãs). Cursou depois a escola normal de 2º grau. Iniciou o magistério em Pelotas e Porto Alegre (RS). Formou-se professor de ciências naturais, desenho, canto orfeônico e educação musical.

Completou sua formação espiritual, catequética e pedagógica fazendo cursos em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Roma e Chile.Aprofundou os seus estudos de botânica em contato com o Irmão Teodoro Luis, botânico de renome internacional e, mais tarde, com o botânico francês Irmão August Duflot, autor da obra “Flora do Rio Grande do sul”.

Atuou como professor e enfermeiro durante cinco anos em Carazinho (PR). Seguiu para o Colégio La Salle de Toledo. Então chegou em Francisco Beltrão, onde atuou durante 35 anos na Pastoral Vocacional e Promoção da Saúde pelas Plantas Medicinais.

Nesta região, sob a orientação do Padre José Caekelbergh, fundou junto com uma equipe a “Assosiação de Estudos, Orientação e Assistência Rural – ASSESOAR”, com objetivo de promover uma melhor formação humana e religiosa dos agricultores.

Além da catequese permanente, Irmão Cirilo assumiu a pesquisa em saúde por meio de plantas e ervas medicinais, realizando palestras e formando equipes de saúde a serviço das comunidades.

Criou em 1971, a primeira apostila sobre plantas medicinais. Durante este período, proferiu centenas de palestras para diversos setores da sociedade, desde agricultores, donas de casa e religiosos, até os setores de educação, como escolas e universidades, bem como na saúde, para enfermeiros e agentes de saúde. Participou de diversos programas de rádio e publicou centenas de artigos em jornais e revistas. Para que houvesse um bom material escrito, elaborou e ampliou muitas vezes um manual de plantas medicinais, procurado internacionalmente. Chegando a alcançar 50 edições, com total de 350.000 exemplares em 17 anos. Irmão Cirilo conta com uma bibliografia de mais de 300 obras sobre o assunto em várias línguas, sem contar com as inúmeras anotações, resultado de muitas pesquisas e entrevistas.

Em 1990, Irmão Cirilo foi designado membro ativo do Comitê Científico Internacional da Confederação Internacional das Associações de Medicinas Alternativas e Naturais, com sede em Madri, na Espanha, integrado pelas personalidades mais destacadas do mundo no campo das medicinas naturalistas.

Em abril de 1995 recebeu o Título de Cidadão Honorário de Francisco Beltrão. Faleceu no dia 26 de junho de 1996.

Mata Atlântica

O Parque Ambiental Irmão Cirilo pertence ao bioma Mata Atlântica, que é considerado um conjunto de formações vegetais, com alta riqueza de espécies e elevada taxa de endemismo, ou seja, de espécie que ocorrem na sua área limite. Considerando esta taxa de endemismo e o seu avançado estágio de degradação, a Mata Atlântica é considerada um hotspot (MMA, 2013).

Um hotspot é uma área prioritária para a conservação da biodiversidade e altamente ameaçada. Para ser considerado hotspot, um ambiente deve possuir duas características: ter no mínimo 1.500 plantas vasculares endêmicas e possuir 30% ou menos de sua área original. Os 35 hotspots existentes atualmente ocupam apenas 2,3% da superfície terrestre, porém abrigam 50% de todas as espécies de plantas do mundo e 43% dos vertebrados conhecidos. Entre todos os hotspots, a Mata Atlântica está entre os cinco mais ameaçados do mundo (CONSERVATION INTERNATIONAL, 2014).

 Entre as espécies que habitam seu a Mata Atlântica, são conhecidas 20 mil espécies de vegetais, sendo oito mil endêmicas, 270 espécies de mamíferos, 992 de aves, 197 de répteis, 372 de anfíbios e 350 de peixes (SOS MATA ATLÂNTICA, s/d). Até mesmo quando comparada com a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica possui, proporcionalmente ao seu tamanho, maior biodiversidade (MMA, 2010). Um dos fatores responsáveis por essa grande variedade de espécies é o relevo, que varia desde áreas no nível do mar até locais com 2.700 metros de altitude (MMA, 2013).

A Lei nº 11.428/06 (Lei da Mata Atlântica) define que o bioma contempla diferentes formações florestais e ecossistemas associados, delimitados no mapa da área de aplicação da Lei, elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (MMA, 2010).

 Distribuição das formações vegetais que compõem a Mata Atlântica no Brasil (A), na Região Sul (B), no estado do Paraná (C) e em Francisco Beltrão (D).

Distribuição das formações vegetais que compõem a Mata Atlântica no Brasil (A), na Região Sul (B), no estado do Paraná (C) e em Francisco Beltrão (D). Fonte: MMA (2010-b) (adaptado).

Em 1500, quando os europeus chegaram ao Brasil, este bioma ocupava cerca de 1.296.446 km² do território nacional (15%), ocupando parcial ou totalmente 17 estados, sendo eles Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Entretanto com o número crescente do desmatamento, o MMA estima atualmente que a Mata Atlântica compreende apenas 26% do total de cobertura original, sendo que a área remanescente está em sua grande maioria distribuída de maneira fragmentada e isolada em torno de centros urbanos (MMA, 2013). Existem ainda visões mais pessimistas em relação a atual área deste bioma extremamente ameaçado, como a do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) que credita à Floresta Atlântica apenas 8% de vegetação remanescente (CEPF, 2015). Tamanha é a destruição de hábitats, que esta é a causa mundial número um em extinção de espécies, tanto animais quanto vegetais. No Brasil, estão ameaçadas 471 espécies de vegetais, sendo 276 da Mata Atlântica (MMA, 2013).

Na Região Sul do Brasil, a Mata Atlântica cobria originalmente uma área de 390.869,13 km², cerca de 68% do território, sendo 98% do Paraná, toda a área de Santa Catarina e cerca de 42% do Rio Grande do Sul. Em 2002 a área de remanescentes florestais da região foi calculada em 97.249,20 km², o que corresponde a 16,2% de todo o seu território. No estado do Paraná, restaram apenas 27,6% da área ocupada por vegetação nativa, já Santa Catarina e Rio Grande do Sul apresentaram 36% de remanescentes em seus territórios (MMA, 2011-b).

Ecótono entre Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecidual

Dentre as formações vegetais da Mata Atlântica que compõem o Paraná, estão presentes no sudoeste deste estado, a Floresta Ombrófila Mista (FOM) ou como também é conhecida, Mata de Araucária, e a Floresta Estacional Semidecidual (FES). O munícipio de Francisco Beltrão está situado na área de transição entre estas sendo que a região em que duas ou mais formações vegetais se encontram é denominada Área de Tensão Ecológica, que pode ser subdividida em ecótonos e encraves. Ecótonos correspondem às áreas onde ocorre a mistura das espécies presentes nas diferentes formações; já nos encraves há contato entre as vegetações, porém não ocorre a mistura de espécies. Assim, caracteriza-se Francisco Beltrão como área de ecótono (MMA, 2011-b).

A FOM é caracterizada pela forte predominância no estrato superior de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, também conhecida como pinheiro-do-paraná, ou simplesmente araucária (MMA, 2011-b).

 Floresta Ombrófila Mista mata com presença de Araucaria angustifolia

Floresta Ombrófila Mista, mata com presença de Araucaria angustifolia. Fonte: Van Ray (2014).

Abrange áreas com clima úmido sem período seco, com temperaturas médias anuais em torno de 18 ºC, mas com três a seis meses em que estas se mantêm abaixo dos 15 ºC. Seus ambientes predominam em terrenos acima de 500-600 metros de altitude. Além da araucária, a FOM é o habitat da Ilex paraguariensis A. St.-Hil., popularmente conhecida como erva-mate, espécie também considerada símbolo desta formação (MMA, 2011-b).

Já o ambiente da FES é caracterizado por dupla estacionalidade climática, onde há dois períodos pluviométricos, um chuvoso e outro seco, cuja temperatura média anual é de 21 ºC, entretanto nas regiões subtropicais há queda na temperatura durante a estação seca, registrando médias mensais de 15 ºC. Essa estacionalidade induz uma parcela da vegetação ao repouso fisiológico, o que determina entre 20% e 50% de árvores caducifólias (ou decíduas), ou seja, que perdem suas folhas durante o período com baixa temperatura (MMA, 2010), como é o caso de Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex Dc.) Mattos ou  ipê-amarelo (MMA, 2011-b).

O fato de Francisco Beltrão estar na região de ecótono entre a Floresta Ombrófila Mista (FOM) e a Floresta Estacional Semidecidual (FES)  implica na presença de espécies de ambas as formações, tornando uma área com padrão de vegetação diferenciado, apresentando espécies características tanto da FOM quanto da FES, sendo assim o Parque Ambiental Irmão Cirilo, uma área importante para a conservação do patrimônio natural, como as espécies de plantas e animais da Mata Atlântica.

 Floresta estacional semidecidual com presença de Handroanthus chrysotrichus.

Floresta estacional semidecidual com presença de Handroanthus chrysotrichus. Fonte: Prochnow (s/d).

Flora e Fauna

De acordo com levantamento dendrológico no Parque Florestal Irmão Cirilo, foi registrada a presença de 72 espécies arbóreas, pertencentes a 49 gêneros e 28 famílias botânicas (SOUZA, 2014). Dentre as quais, 27,78% são caducifólias, ou seja, árvores que perdem as folhas no outono e inverno; 30,47% são semicaducifólia, perdem algumas folhas, mas não todas, em certos meses do ano e 41,75% perenifólia, conservam suas folhas sempre verdes o ano todo (OLIVEIRA, 2014).

Um dos fatores a serem considerados para a revitalização do PAIC, é a existência de espécies exóticas no local. São oito espécies, sendo predominantes Hovenia dulcis (Uva-do-Japão), Eucalyptus sp. (Eucalipto), Ligustrum lucidum (Ligustro) e Pinus sp. (Pinus) (CAMINSCHI, 2013).

Apesar da ocorrência de espécies exóticas e intensa ação antrópica no local, algumas espécies nativas tem resistido e alcançado certa regeneração, como é o caso da Araucaria angustifolia (Araucária, Pinheiro-do-Paraná), cuja densidade é de 85,71 árvores/há, com frequência de 50% (BRONSTRUP). Contudo, se reduzidos os impactos ambientais do qual o Parque é alvo e realizado o correto manejo das espécies exóticas, a regeneração das espécies nativas seria mais rápida e efetiva.

A biodiversidade regional presente no Parque Florestal Irmão Cirilo é bastante significativa e fomenta pesquisas realizadas na área a fim de caracterizar as espécies ali existentes. Neste sentido, pode-se citar o levantamento de coleópteros, popularmente conhecidos como besouros, presente no parque, demonstrando a existência de sete famílias, com destaque às famílias Staphylinidae e Chrysomelidae, pois apresentaram maior incidência quando comparadas às outras famílias, fato este que pode estar relacionado aos hábitos alimentares de ambas que é composta por matéria orgânica em decomposição, encontrada em abundância no parque (DUARTH, 2013).

A partir de levantamento de avifauna presente no PAIC, observou-se uma riqueza de 82 espécies, distribuídas em 35 famílias e 18 ordens, demonstrando ainda, que o parque abriga aves residentes como Troglodytes musculus (corruíra-de-casa), aves migratórias como Myiodynastes maculatus (bem-te-vi rajado) e aves visitantes como Leptodon cayanensis (gavião-de-cabeça-cinza). A avifauna observada, é composta por aves carnívoras, detritívoras, frugívoras, granívoras, insetívoras, nectívoras, onívoras e piscívoras (FERREIRA, 2012), demonstrando a necessidade de conservação da área a fim de garantir a sobrevivência de tal riqueza.

Alguns mamíferos também habitam o PAIC, como é possível observar no levantamento de mamíferos não voadores realizado por Pereira, 2014, em que foi registrada a presença de seis espécies: Nasua nasua (Quati), Dasyprocta azara (Cutia), Hydrochoerus hydrochaeris (Capivara), Cavia aperea (Preá), Didelphis sp. (Gambá) e Mus musculus (Camundongo). Tais espécies são consideradas generalistas, apresentando facilidade de adaptação à áreas fragmentadas. O reduzido número de mamíferos identificados é preocupante e exige medidas de recuperação da área a fim de reintegrar a fauna local.

 

 Autores: Eduardo Rafael Schramel e Emeline da Silva Ceccon – Curso de Ciências Biológicas UNIPAR 2015




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