História

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“Coração do Sudoeste” – assim denominado pela sua localização central na região, pela liderança econômica, política e populacional no Sudoeste do Paraná -, o município de Francisco Beltrão começou como “Vila Marrecas”. Sua transformação em cidade foi rápida. Em menos de cinco anos do início do povoado, sem nunca ter sido distrito, a vila era elevada à condição de sede do município, em dezembro de 1952.

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O povoado começou a se formar em 1947, quando Damásio Gonçalves construía a primeira pensão (em frente à atual Praça da Liberdade) e abriam-se as primeiras “bodegas”, como a de Otávio Araújo, quase em frente à pensão. É que a Cango (Colônia Agrícola Nacional General Osório), criada em 12 de maio de 1943 (Decreto nº 12.417, assinado pelo presidente Getúlio Vargas) e instalada provisoriamente em Pato Branco, estava chegando.

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A pedido de Júlio Assis Cavalheiro e Luiz Antônio Faedo, proprietários da maior parte das terras da margem direita do rio Marrecas, um topógrafo da Cango (talvez Pedro Hyaudochen) traçava o primeiro mapa da futura cidade. Em 1947, Júlio Assis e Faedo começaram a vender e até doar lotes, quase todos padronizados em 22×44 metros. E o povoado foi crescendo rapidamente.

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A meta da Cango era instalar-se no meio da Colônia Missões, que começava no Marrecas, mas resolveu construir seus barracões provisoriamente às margens do rio, e acabou ficando em definitivo. Com a Cango, que assentava famílias de agricultores dando-lhes terra, ferramentas, sementes, orientação técnica, educação e assistência médica, a Vila Marrecas recebeu médico, dentista, professores, topógrafos, agrônomos, mecânicos, carpinteiros, marceneiros, o que muito contribuiu para o desenvolvimento do lugar.

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O distrito de Francisco Beltrão existia desde 1940, mas localizava-se no interior do futuro município de Renasença. A Lei estadual 790, assinada pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto em 14 de novembro de 1951, transformava o distrito de Francisco Beltrão em município, mas mudava sua sede para Marrecas.

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Em 1954 Francisco Beltrão transformava-se também em sede de Comarca. O desenvolvimento era grande, impulsionado pela extração da madeira e a agricultura. O que brecou o desenvolvimento foi a disputa de terras, entre posseiros e as companhias colonizadoras, resultando na histórica Revolta dos Posseiros, que abrangeu quase todo o Sudoeste mas teve seu ponto culminante em Francisco Beltrão, que era a sede das companhias de terra Citla e Comercial. Dia 10 de outubro de 1957, milhares de posseiros tomaram conta da cidade e expulsaram as companhias, com todos os seus funcionários.

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No ano de 1957, devido aos conflitos de terras, a cidade recebeu uma unidade do Exército. Depois foi mantida, devido à posição estragégica do município, que fica a menos de100 quilômetros da fronteira com a Argentina.

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Para resolver o problema da legalização das terras, o governo federal e o governo do Paraná criaram, em 1962, o Getsop (Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná), tendo Francisco Beltrão como sede. O Getsop viabilizou também a abertura de estradas e a construção de escolas, incentivou o reflorestamento, entre outros benefícios. Após cumprir sua missão, o Getsop foi extinto, em janeiro de 1974.

Francisco Beltrão está na rota estabelecida pelo governo federal para ligar, por rodovia, Três Pinheiros, no centro do Paraná, a Barracão, na divisa com a Argentina. Mas ao ser asfaltada, em 1969, a rodovia teve sua rota desviada de Coronel Vivida para Pato Branco. E Beltrão receberia asfalto somente sete anos após, em 1976, por uma rodovia estadual vinda de Pato Branco (PR 280).

Mesmo assim, apesar dos atrasos causados pela disputa de terras, pelo desvio do asfalto e tantos outros contratempos, Francisco Beltrão foi o município que mais cresceu no Sudoeste do Paraná, transformando-se no maior centro populacional e industrial da região da Amsop, que tem 42 municípios.

 Homenagem a Francisco Gutierrez Beltrão

O nome é uma homenagem ao paranaense Francisco Gutierrez Beltrão (nascido em Paranaguá – 6.11.1875 – e sepultado em Curitiba – 29.5.1939), engenheiro, secretário de estado e grande colonizador do Paraná. Casado com Lavínia Trevisani, Francisco Beltrão teve nove filhos e o terceiro deles chamava-se Francisco Trevisani Beltrão. Não se deve confundir os nomes, pois a homenagem do município é ao pai, Francisco Gutierrez Beltrão. Quanto a Engenheiro Beltrão, no norte do Paraná, o nome daquele município é uma homenagem a seu fundador, o engenheiro Alexandre Beltrão (1896-1987), que era imrão de Francisco Gutierrez Beltrão.

Uma eleição, dois prefeitos

A história política começou com uma eleição tumultuada, para eleger o primeiro prefeito. No pleito de 9 de novembro de 1952, elegeu-se Ricieri Cella, do PTB. Empossado em 14 de dezembro de 52, Cella governou até o início de fevereiro de 1953, quando foi obrigado a entregar o cargo para seu concorrente, Rubens da Silva Martins, do PSD. A Justiça Eleitoral aceitou um pedido para validar algumas centenas de votos em separado, que não tinham sido computados na eleição do dia 9 de novembro de 1952. Na nova contagem, Rubens, que na primeira contagem tinha 537 votos, ficou com 749. E Cella, que fora eleito com 545 votos e vencera com uma diferença de 17, ficou com 697 e perdeu por 52 votos.

Os prefeitos

– Ricieri Cella, PTB (52-53)
– Rubens da Silva Martins, PSD (53 a 56)
– Ângelo Camilotti, PSD, candidato único (56 a 60)
– Wálter Alberto Pécoits, PTB (60 a 63)
– Euclides Girolamo Scalco, PTB (63 a 64)
– Antônio de Paiva Cantelmo, PTB e MDB (65 a 68 e 73 a 76)
– Deni Lineu Schwartz, Arena, candidato único (69 a 72)
– João Batista de Arruda, Arena e PFL (77 a 82 e 93 a 96)
– Guiomar Jesus Lopes, PMDB (83 a 88 e 97 a 2000)
– Nelson Meurer, PDS (89 a 92)
– Vilmar Cordasso, PP (2001 a 2008)
– Wilmar Reichembach, PSDB (2009 a 2012)
– Antônio Cantelmo Neto, PMDB (2013 a 2016)
– Cleber Fontana, PSDB (2017 a 2020)

Deputados Estaduais

– Walter Pécoits, pelo PTB, em 1962
– Aryzone Mendes de Araújo, pela Arena, em 1970
– Deni Schwartz, pelo MDB e PMDB, em 1974, 1978 e 1982
– Túlio Zanchet, pela Arena, em 1978*
– Haroldo Ferreira, pelo PMDB, em 1986
– João Arruda, pelo PFL, em 1986 e 1990
– Luciana Rafagnin, pelo PT, em 1998*, 2002, 2006 e 2010
– Ademar Traiano, pelo PRN, PTB e PSDB, em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010 – Wilmar Reichembach, pelo PSC (2014 a 2018)

Deputados Federais

– Euclides Scalco, pelo PMDB, em 1978, 1982 e 1986
– Nelson Meurer, pelo PP, em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010
– Deni Schartz, pelo PMDB, em 1990*
– Assis do Couto, pelo PT, em 2006 e 2010

Lideranças Políticas

Ex-prefeitos de Francisco Beltrão tornaram-se deputados, secretários de Estado e ministros. – Walter Pécoits, principal líder da Revolta dos Posseiros em 1957, foi prefeito de 61 a 63, deputado estadual de 63 a 64 (esteve entre os cassados pela Revolução, perdendo os direitos políticos de 64 a 74), depois foi secretário de Estado, no governo de José Richa (83-86). – Deni Lineu Schwartz, que chegou no município como chefe do Getsop, em 1963, prefeito de 69 a 72, foi deputado estadual de 74 a 82, deputado federal em 93 e 94, secretário dos Transportes de 83 a 86 (governo de José Richa), secretário dos Transportes de 95 a 96 e secretário da Agricultura em 2002 (governo de Jaime Lerner), ministro do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, o MDU (do presidente José Sarney de 86 a 87), e diretor de assuntos institucionais da Copel (de 96 a 2002).

– Euclides Scalco, prefeito de 63 a 64, foi suplente de senador de 74 a 82, deputado federal de 78 a 90, candidato a vice-governador em 1990 (na chapa de José Richa) e presidente da Itaipu Binacional e ministro do presidente Fernando Henrique Cardoso (1994 a 2002).

Mandato Tampão

Dia 30 de janeiro de 1963, Wálter Pécoits passou o cargo de prefeito ao presidente da Câmara, Antônio de Paiva Cantelmo, porque iria assumir como deputado na Assembléia Legislativa e naquele tempo não havia vice-prefeito. Cantelmo exerceu o executivo até dia 1º de julho de 1963, data em que assumia o novo prefeito, Euclides Scalco, eleito para um mandato tampão.

Primeiro Prefeito, depois Vereador

No ano de 64, Euclides Scalco licenciou-se do cargo de prefeito, 45 dias antes da eleição, para candidatar-se a vereador, elegendo-se. Scalco é o único político, no município, que depois de prefeito foi vereador. Naqueles 45 dias, quem assumiu a prefeitura foi o presidente da Câmara, vereador Paulo Borghesan.

Primeiro Vereador, depois Prefeito

Dos 14 políticos eleitos prefeito de Francisco Beltrão, apenas seis exerceram antes o cargo de vereador:Valter Pécoits, Antônio de Paiva Cantelmo, Guiomar Lopes, Wilmar Reichembach , Antônio Cantelmo Neto e Cleber Fontana.

Maior População do Sudoeste

Desde que passou a fazer parte do Censo do IBGE, Francisco Beltrão sempre apareceu como o município mais populoso, entre os atuais 42 do Sudoeste do Paraná.

  • Em 1960 – 55.496 habitantes.
  • Em 1970 – 36.807* habitantes.
  • Em 1980 – 48.762 habitantes.
  • Em 1991 – 61.272 habitantes.
  • Em 1996 – 65.730 habitantes.
  • Em 2000 – 67.132 habitantes.
  • Em 2007 – 72.409 habitantes.
  • Em 2010 – 78. 943 habitantes.
  • Em 2012 – 80.727 habitantes.
  • Em 2016 – 87.491 habitantes.
  • Em 2020 – 92.216 habitantes.

*Perdeu população devido ao desmembramento dos municípios de Eneas Marques e Salto do Lontra.

Pioneiros

Não contando os índios que devem ter passado por aqui sem deixar maiores vestígios, na área central da futura cidade os moradores mais antigos, que vieram pra ficar, foram Sebastião Müller, Luiz Antônio Faedo e Francisco Comunello. – Sebastião Müller chegou em 1941.
– Luiz Antônio Faedo, em 1945, comprou as terras e o rancho de Sebastião Müller, próximo à futura rodoviária, e Müller mudou para o futuro bairro Miniguaçu. – Francisco Comunello estabeleceu-se em agosto de 1946, após ter comprado terras, um ano antes (entre a Prefeitura e o Estádio Anilado), de Donato Leal, morador de Marmeleiro.
Outros nomes que aparecem na história, envolvidos em negócios de terras, eram funcionários ou empreiteiros da Cango, como José Siqueira de Azevedo, Paulo Cantelmo, Carlos Mendes de Oliveira (Seo Carlinhos), Aparício Henriques e Júlio Assis Cavalheiro. Mas junto com a Cango, e também atraídos pelo povoado que nascia, veio muita gente, em pouco tempo. Tanto que, no cinquentenário do município, em dezembro de 2002, a Prefeitura, através do Departamento de Cultura, homenageou mais de 700 pioneiros, todos estabelecidos aqui antes de 14 de dezembro de 1952 e que ainda residiam no município.

Cango em Pato Branco

De 1943 a 1948 a Cango ficou instalada em Pato Branco, período em que abriu as estradas até o início de suas terras e construiu a primeira ponte sobre o Marrecas (era uma ponte coberta). Em abril de 1948, a Cango se instalava na margem esquerda do Marrecas, nos pavilhões que mais tarde seriam cedidos à unidade do Exército e que até hoje estão preservados.

Primeira Escola

Dia 3 de maio de 1948 acontecia a primeira aula, na área da futura cidade. Foi numa escola construída pela Cango (até hoje preservada, no bairro Cango), tendo como primeira professora Italina Zancan Scotti.

Primeiro Padre

O primeiro padre a estabelecer-se em Francisco Beltrão foi Frei Deodato (Antônio Bernhart, 18.6.1896 a 14.8.1964, natural de Schaitt, Alemanha). Frei Deodato, que virou nome de rua, atendia capelas de Marrecas e toda a região, montando seu cavalo Max, de 1949 a 1956. Foi expedicionário, “durão”, vestia somente a batina e as sandálias, mas não faltava a nenhum compromisso, nem em dias de muita chuva, era, como se diz, “um verdadeiro franciscano”.

Dia da padroeira, 15 de agosto

A Paróquia foi criada em 1956, pelos padres belgas, mas a festa de Nossa Senhora da Glória era realizada desde 1950, no dia da padroeira, 15 de agosto, que é feriado municipal. Em 15 de agosto de 1987, a Igreja da Paróquia Nossa Senhora da Glória transformou-se em Concatedral, porque Francisco Beltrão passou a ser sede, junto com Palmas, da Diocese de Palmas e Francisco Beltrão.

*Ivo A. Pegoraro é jornalista em Francisco Beltrão desde 1979.




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