18 de Maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial

17 de maio de 2018

“Por uma sociedade sem Manicômios” este é o eixo norteador da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial no Brasil.

O dia 18 de maio é um marco no calendário Brasileiro! Comemora-se 31 anos do Movimento da Luta Antimanicomial. Este movimento teve início na década de 70, mas ganhou força no ano de 1987 quando foi marcado por dois momentos  importantes que levaram a escolher esta data como o dia “D” da Luta Antimanicomial. O encontro dos trabalhadores de Saúde Mental na cidade de Bauru/SP reuniu mais de 350 profissionais que atuavam na área. Eles redigiram um manifesto denunciando os abusos e violação de direitos humanos sofridos pelos pacientes dentro dos manicômios. Reivindicaram o fim desse tipo de tratamento e a instalação de serviços alternativos. O segundo marco foi a realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental, em Brasília.

O movimento da Reforma Psiquiátrica  “Por uma Sociedade sem Manicômios” combate a ideia de que, pessoas com sofrimento mental devam ser isoladas e segregadas em manicômios e  defende  que, como todo cidadão,  estas pessoas tenham  garantidos seus direitos fundamentais de liberdade, de viver em sociedade, com cuidado e tratamento dignos. O movimento surge para propor “um outro olhar sobre a loucura” (transtorno mental), pois as pessoas veem o que estão acostumadas a ver e é preciso um  olhar diferente para mudar.

A Reforma Psiquiátrica é entendida como um processo social complexo, com a redução gradual,  pactuada e planejada dos leitos em hospitais psiquiátricos, o que  não significa sua redução total, haja vista que ainda há necessidade de leitos, pois como se trata de um processo, outros serviços substitutivos ainda devem ser viabilizados.

Trazendo a Reforma Psiquiátrica para a nossa realidade, o Município de Francisco Beltrão tem atuado de acordo com estas diretrizes, reestruturando e implantando serviços que possibilitem o acolhimento e tratamento digno, através do acompanhamento contínuo e multiprofissional. Também, por acreditar numa política pública que não isola, não estigmatiza, não retira o sujeito do seu convívio familiar e social, condições necessárias para o bom reestabelecimento ou melhora do quadro, além de estreitar os laços entre usuários, família e sociedade. Com esta finalidade, a Secretaria Municipal de Saúde enfatiza o trabalho em rede, articulando ações e serviços de diferentes setores e níveis de complexidade.

Na Atenção Básica, aqueles que têm necessidade de atendimento devido aos transtornos mentais e/ou uso decorrente de álcool e outras drogas, podem receber atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família ou ser encaminhados para atendimento especializados no Centro Regional de Especialidades (CRE) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Estes locais são destinados a prestar atenção diária à reabilitação a pessoas com transtornos mentais e/ou decorrentes do uso de álcool e outras drogas e/ou em situações graves ou de crise. Através do atendimento em rede, conta também com a parceria de outros setores, como a Assistência Social, Educação e Cultura, além de prestar atendimento psicológico ambulatorial para transtornos mentais graves e atendimento focado para casos de tentativas de suicídio.

RELATO DE UM PACIENTE DO CAPS

Um usuário do Centro de Atenção Psicossocial relata a experiência que viveu durante um internamento num manicômio para desintoxicação e a diferença que percebe ao frequentar o CAPS.

Ele conta que ficou internado em Maringá durante 20 dias para passar pelo processo de desintoxicação, pois fazia uso de álcool desde a adolescência e hoje esta com 54 anos de idade. “Lá no hospital eu ficava isolado, sem visitas, sem contato com o mundo, me sentia solitário e triste. O tratamento é severo e as condições não são muito agradáveis. Naquele lugar não tem o que fazer e o tempo não passa”, conta o ex-alcoolatra.

Ele relata que no CAPS, onde está fazendo acompanhamento já há dois meses, o tratamento é muito bom, a comida é gostosa e caprichada, além disso, agora ele desenvolve atividades e fez amizades com outros pacientes e com os funcionários. “Aqui me sinto bem, me sinto acolhido, trabalho com marcenaria, eu sou servente de pedreiro e a marcenaria para mim é uma facilidade e um passa tempo. Além disso, de noite vou para casa ficar com minha família e isso é muito bom. Nunca mais bebi e pretendo continuar sóbrio, ficarei fazendo acompanhamento no CAPS enquanto for necessário. Aqui temos um atendimento humanizado”, completa o paciente.

Sabemos que a Reforma Psiquiátrica é um processo de “desconstrução” no modo como se entende o transtorno mental e as  suas formas de tratamento. É um processo de “re-construção” de novos caminhos. Entendemos que Saúde Mental, não se resume à cura da doença, é necessário reconhecer que um cidadão é muito mais que um doente, ele é um sujeito que tem desejos legítimos. Ao contrário do que se diz, a doença mental não é só da mente, é uma doença da relação daquela pessoa que sofre, com os outros.

Artigo: Marina Thibes

Psicóloga e Coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Francisco Beltrão e Membro da Escuta Psicanalítica de Francisco Beltrão (EPFB).




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